
Fiquei tão impactada com o filme que assisti ontem que precisei escrever a respeito. Trata-se de MATCH POINT, um filme não tão novo do Woody Allen, que eu gosto muito, e com a lindíssima Scarlett Johansson.
O roteiro não é novo, uma adaptação de Crime e Castigo do Dostoyevski que é outro que eu gosto muito por sempre conseguir ir às profundezas da sordidez humana. O protagonista, um belo e jovem rapaz que casa-se por conveniência com uma burguesinha e apaixona-se por uma “inconveniente” atriz fracassada. No filme pelo menos, ele não é exatamente o que se pode chamar de um mau caráter. É apenas um cara ambicioso, oriundo da classe média irlandesa que almeja “subir na vida”. É também muito hábil em aproveitar a sorte de ser jovem, belo, inteligente e estar no dia certo, na hora certa, conhecendo as pessoas certas que o levarão ao cerne de uma tradicional e riquíssima família inglesa. A não ser pela “pulada de cerca”, ele não faz nada ilegal, nada desonesto ou nada que a moral capitalista recrimine, condene ou puna com prisão ou censura. Torna-se em pouco tempo, além de rico, um “bom” homem de negócios e um “bom” marido.
Mas, até mesmo para um ambicioso, a felicidade está, também, no amor. O amor que potencializa, que diverte, que encanta, que excita a vida.
Acontece que não é só o amor que tem a capacidade de produzir tão importantes sentimentos para a alma humana. O dinheiro também faz isso. Quem é pobre, com dinheiro fica rico. Quem é feio, com dinheiro se arruma, faz plástica e fica bonito. Quem é medíocre pode ser o melhor. Quem é triste pode ir à terapia, às compras no shopping e ficar feliz. Quem é desonesto pode se safar. Quem vê tudo cinza pode se encantar com as mais diversas e belas artes produzidas pela humanidade. Quem está entediado pode brincar com os filhos ou se excitar com vários(as) amantes - e sustentá-los(las)!!!
Sem hipocrisias, nessa sociedade o dinheiro também pode potencializar o que há de melhor nas pessoas e pode deixá-las permanentemente encantadas, excitadas e contentes. Ou alguém pensa que a burguesia é infeliz? Que dinheiro não traz felicidade? Pieguices à parte, eles são felizes e muito. Só pelo fato de terem tempo de usufruir das coisas boas da vida – artes, família, amigos, comidas, bebidas, natureza, luxos, viagens - sem ter que trabalhar feito um condenado pra viver, já faz dos burgueses pessoas muito felizes. Para além disso que o dinheiro compra, eles ainda também tem direito ao amor e amor de verdade. Burguês também ama. Aí, para estes, com dinheiro e amor, é só viver em plenitude!
O burguesinho bonito e apaixonado do filme, depois de tantos momentos de sorte, teve o azar de o amor entrar em conflito com o dinheiro (algo bem incomum nessa classe social, pois normalmente aí, essas duas coisas andam casadas). Então, ele teve que escolher. E fez a escolha óbvia para existência* dele.
O filme me impactou não pela resolução final do enredo criado, e sim pela profundidade, o peso e a contradição dos sentimentos envolvendo a personagem do rapaz ambicioso. Minha consciência é a da minha classe e a da minha existência, tenho poucas coisas, então fico com náuseas quando me deparo com os sentimentos sórdidos que a posse de riquezas materiais pode causar. Pensei no dia em que quis (por alguns minutos apenas, mas quis) esganar o adolescente que roubou a minha máquina fotográfica no último dia de viagem a Buenos Aires. Imaginem o que eu não quereria se me estivesse ameaçado todo um império em patrimônios?!
Marx explica (não justifica) o porquê de tantos Paloccis, Delúbios, Dirceus, ACM’s, Collors, Sarneis, Maluf’s,etc... Roubar, matar, enganar, trair tem valor diferente dependendo de quanto você tem no banco, ou se você ao menos tem conta corrente.
* A existência determina a consciência. (Karl Marx)
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