quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


Desde que comecei a manifestar a vontade de ser mãe - na verdade foi durante a vida toda, mas nesse período pré e pós gravídico muito mais – escuto as mulheres relatarem as alegrias e principalmente as agruras da maternidade. Muitas delas comentam como forma de convencimento, de que vale a pena sempre, que tudo é recompensado. Algumas outras apenas comentavam uma coisa ou outra, mas a maioria, pelo menos pra mim, relatava muitas inconveniências com a nítida intenção de me fazer pensar dez vezes antes de tomar a decisão, quase que ao ponto de dizer: não tenha. Mas acho que esses relatos não têm muito efeito prático pra mulher nenhuma e pra mim não teve mesmo. Por um longo período eu realmente achei que “Filhos: melhor não tê-los!”, e de uma hora pra outra cheguei à mesma conclusão do Poetinha: “ Mas, sem tê-los como sabê-lo?
Chegada essa conclusão, fui atrás de sarna pra me coçar e desde então, tudo que se possa imaginar de bom em ser mãe tem tido em mim um efeito bem superior a tudo que se possa imaginar de ruim em ser mãe. Porém, agora, com 5 meses de gravidez, estou com medo!
Não são as dores e incômodos que tenho sentido bastante e que, eu sei, só vão piorar. Também não foi nada do que me disseram e nem nada a respeito de como é difícil educar, como é dispendioso, preocupante, etc. O que aconteceu é que hoje, domingo, desde as 9h da manhã, uma emocionante cena da natureza urbana me deixou em pânico de início e depois em estado de tamanha reflexão que precisava tentar colocar isso no papel.
Trata-se de uma pequena família de pombos que acerca de quatro semanas resolveu se instalar na caixa vazia de ar-condicionado do prédio vizinho ao meu e que fica em frente à janela da minha cozinha. É realmente uma família bem pequena. Uma pomba que chocou seu ovo durante dias e dias solitariamente diante dos meus olhos curiosos e já faz mais de uma semana que veio o bebê pombo pra formar uma verdadeira família (pois não existe família de um só, mas de dois já é sim uma verdadeira família). O bebê nasceu minúsculo e horrível. Da cozinha só dava pra ver uma coisinha amarela com dois olhinhos pretos. Foi crescendo feioso, despenado e barulhento, sempre com a mamãe pombo ali do lado lhe enchendo a goela de comida. Só que há dois dias a pomba não apareceria e o bebê estava sempre só, já nem grunhia mais. Pensei, será que já está na hora dele se virar sozinho ou será que ela abandonou o coitado? Não era nem uma coisa nem outra. Hoje acordei com o grunhido do filhote e levantei toda contente achando que o barulho se devia ao retorno da mamãe. Pra meu desespero não era a mamãe, eram dois pombos bandidos que se revezavam em atacar o pequeno. Eles arrancaram as poucas penas que havia nele, bicavam, empurravam, deixando ele todo arrebentado até sair sangue. Tentei jogar bolas de papel, jarras d'água pra espantar os assassinos; também joguei pedaços de pão na tentativa de dissuadi-los, mas nada adiantou. Então fiquei ali aos prantos presenciando tudo, tentando me convencer que aquilo era natural e eu não tinha nada que me meter. Ainda chegou mais um terceiro comparsa e o massacre continuou. Pobre pombinho!
Mas de repente chegou a mamãe pombo num vôo rasante. Indignada e enérgica colocou já dois deles imediatamente pra fora da caixa. Lutou bravamente com o terceiro que insistia e resistia à raiva da mamãe. Até que ela venceu a briga. Os três foram postos pra fora, mas continuavam ali por perto rondando e tentando entrar o tempo todo. Passado o momento da briga era hora de ver como estava o coitado. Ela andava de um lado pro outro olhando pra ele sem saber o que fazer como quem dissesse chorando: meu filhinho o que fizeram com você?! Ele já não grunhia mais, estava lá parado, não estava morto, mas todo arrebentado.
E eu também me arrebentei, fiquei mal o resto do dia. Agora me enchi de elucubrações e receios. Fiquei questionando a frase que adoro e que pretendo tatuar no meu corpo assim que puder: “ Á vida é bela!”(L. Trotsky) Estou com medo de não ter a força da mamãe pomba, de não ter a agilidade e sabedoria dela. Estou com medo dos pombos bandidos que haverá ao longo do caminho do(a) meu/minha filho(a). Porque a natureza pode ser bela, mas é perigosa também. E a natureza humana, apesar de, a meu ver, ser intrinsecamente boa, solidária e justa, não tem conseguido dar cabo da natureza cruel e bárbara da sociedade que estamos. Tenho medo do bandido chamado capitalismo!
Acho estranho que esses medos todos, com essa intensidade, tenham chegado só agora quando todos já atribuem o sentido certo ao tamanho da minha barriga. Não me sinto arrependida de nada, continuo querendo essa criaturinha e cada dia a quero com mais urgência. Mas simplesmente estou com medo!
 Como já disse um dia sei lá quem: Coragem não é ausência de medo, e sim consciência da necessidade. Então, a necessidade agora está posta, preciso forjar a coragem. 

Nenhum comentário: