quarta-feira, 30 de junho de 2010

Felicidade é o desejo da repetição.


"O amor entre o homem e o cão é idílico. É um amor sem conflitos, sem cenas dramáticas, sem evolução. Em torno de Tereza e Thomas, Karenin traça o círculo de sua vida, baseada na repetição, esperando deles a mesma coisa.
Se Karenin fosse um ser humano e não um animal, certamente já teria dito à Tereza, há muito tempo: 'Escuta, não acho graça de todos os dias ter que levar um croissant na boca. Não poderia descobrir uma bricadeira diferente?' Essa frase contém toda a condenação do homem. O tempo humano não gira em círculos, mas avança em linha reta. Por isso o homem não pode ser feliz, pois a felicidade é o desejo da repetição.
Sim, a felicidade é o desejo da repetição, pensa Tereza.
Quando o presidente da cooperativa ia passear com seu porco Mefisto depois do trabalho e encontrava Tereza, nunca deixava de dizer: - Dona Tereza! Se ao menos eu e ele nos tivéssemos conhecido antes! Teríamos saído juntos para paquerar as garotas! Nenhuma mulher resiste a dois porcos juntos! - Ouvindo essas palavras, o porco grunhia - tinha sido treinado para isso. Tereza ria, apesar de saber de antemão o que lhe diria o presidente. A repetição não tirava o encanto da brincadeira. Ao contrário. No contexto do idílio, até o humor obedece à doce lei da repetição."

*Para mim, eis o conceito mais completo do que é felicidade. Trata-se de um trecho do livro de Milan Kundera, A Insustentável Leveza do ser, em sua Parte sétima - O sorriso de Karenin, capítulo 4.

3 comentários:

dade amorim disse...

Um livro bem gostoso de ler, uma história muito boa.

Beijoca, Myrela.

Sylvia Araujo disse...

Querer alguma coisa mais de uma vez é sinal de que é especial.

Tirando as especialidades eu não gosto muito da repetição não. rs

Beijo, Myrela

Moni Saraiva disse...

Aquilo que a gente resmunga e insiste em chamar de rotina, é porque na verdade se trata de algo que não se gosta. Porque o bom, claro, a gente quer de novo, de novo, e de novo... Sem problemas com a repetição...

Lembrou-me Elisa:

(...) O enredo
a gente sempre todo dia tece
o destino aí acontece:
o bem e o mal
tudo depende de mim
sujeito determinado da oração principal.

Beijos, My!